terça-feira, 16 de agosto de 2011

Die-cutting

Recebi uma notificação do Abebooks bastante engraçada. Geralmente não ligo muito porque uso a "loja" como último dos últimos recursos (não porque o serviço seja mau, mas já recebi um livro que cheirava bastante mal e não é agradável) mas desta vez ainda me demorei um bocadinho a ler. É sobre die-cut books, um método de impressão bastante original que cria "buracos" nos livros que permitem ao leitor espreitar para a página seguinte e construir a sua própria história, juntando palavras de várias páginas. O livro mais recente de um dos meus autores favoritos, Jonathan Safran Foer, foi editado com esta técnica. Aqui fica o link para o artigo do Abebooks, que apresenta em complemento uma selecção de obras com este design.


Die-Cuts to Die For

Pessoalmente, não sou grande fã. Acho a ideia original, claro, mas não sou capaz de ler um livro assim. Pertenço àquele grupo de leitores conservadores que não gosta muito de inovações a nível de design, como é o caso, ou a nível de escrita, como começar a história do princípio para o fim e não usar pontuação. De qualquer forma, dêem uma espreitadela!

sábado, 13 de agosto de 2011

"Be With You/Contigo Para Sempre", Takuji Ichikawa

(Céus, como detesto o título em português... parece que estive a ler Nora Roberts)


Passou um ano desde que Aio Mio morreu. O seu marido, Takumi, e o filho, Yuji, têm conseguido prosseguir com as suas vidas, sempre ensombradas pela perda que sofreram. Com a intenção de querer que Yuji conhecesse a história dos pais quando fosse mais crescido, Takumi começa a escrever um livro de memórias, também para se sentir mais próximo de Mio. Ao mesmo tempo, a época das chuvas aproxima-se... e Takumi lembra-se muito bem das últimas palavras da mulher: "Voltarei no início da época das chuvas para ver como vocês estão". Um dia, os dois vão dar um passeio ao bosque onde costumavam ir com Mio. Chove. Ao aproximarem-se de uma antiga fábrica abandonada, Takumi reconhece uma silhueta que lhe é bastante familiar. Uma silhueta que não via há mais de um ano. A silhueta da sua mulher.

Contigo Para Sempre sofre de um grande problema: a tradução do título. Existem muitas pessoas que, tal como eu, são capazes de torcer o nariz. Mas, desta vez, consegui ir mais além e realmente levar a leitura do livro até ao fim e não me arrependi. É um daqueles casos que não se deve, de todo, julgar o livro pelo... título?

A primeira metade da história decorre lentamente, como é hábito na literatura nipónica (se estiver errada, por favor corrijam-me, mas até hoje ainda não li um livro de um autor japonês que não fosse lento). Nela, Takumi conta a Mio que, aparentemente, perdeu a memória ao regressar ao mundo dos vivos, a história de amor que ambos viveram. Uma história simples, de um rapaz e de uma rapariga que passaram três anos na escola sentados ao lado um do outro sem falar mas que, no último dia de aulas, sentiram uma ligação. Uma história que podia ser de qualquer um, bonita pela sua simplicidade e proximidade à realidade daquele primeiro amor inocente, da descoberta. A segunda metade é bastante mais emotiva. Temos toda a carga emocional da história que foi contada aliada à noção que Mio se tem que ir embora novamente, que tem de haver um adeus definitivo.

E é isso. Simples, mas faz-nos pensar nas nossas próprias relações, naqueles pequenos momentos especiais... como a primeira prenda que ele/ela nos ofereceu, ou o cenário idílico dos primeiros encontros (que pode ser no sítio mais feio, mas para nós será sempre idílico). Vivemos a história com eles e, tal como eles, não queremos que ela acabe para sempre.

Contudo, este não é um livro triste. É um livro que nos ensina a ver o lado bom da vida, sobretudo no último capítulo. Há coisas inevitáveis. Como a morte. Mas o que é a morte quando a curta vida que tivemos nos fez tremendamente feliz? É triste partirmos cedo, mas sabemos que fizemos o nosso melhor quando cá estivemos. Que podíamos ter escolhido outro rumo que talvez nos fizesse viver mais uns anos, mas não nos traria felicidade alguma. Penso ser essa a mensagem que o autor tenta passar e consegue fazê-lo impecavelmente. Lá está, com simplicidade e objectividade.

A única coisa que tenho a apontar é a tradução. De certeza que havia muitas opções aos constantes "Ai sim?". Uma pessoa simplesmente não diz "Ai sim?" quando alguém lhe diz "Olha tu morreste e voltaste e agora tens que ir outra vez".

Curioso é que esta é uma história semi-autobiográfica. Takuji Ichikawa baseou-se na relação com a mãe e com a mulher para o escrever (a mulher dele ainda é viva, contudo). É engraçado com uma história baseada nas duas grandes mulheres na vida de um homem se torna num dos livros mais lidos e acarinhados do Japão.

(Dentro do mesmo género, recomendo "Um Grito de Amor Desde o Centro do Mundo", de Kyochi Katayama. É muito mais triste, não tem qualquer farrapito de optimismo mas é uma história muito forte)



quarta-feira, 10 de agosto de 2011

Novas edições dos Virago Modern Classics

Uma notícia sugerida por uma amiga minha (adoro quando isto acontece). A colecção Virago, ramo da editora Little Brown, decidiu editar novamente alguns títulos do seu catálogo com um look renovado. Parece que as capas em tecido estão na moda...


Pelo que percebi, este ramo da Little Brown especializa-se em publicar autoras femininas subvalorizadas. Posso estar errada mas, se esse for o caso, fiquei com bastante curiosidade em ler alguns títulos. Alguns já estão disponíveis no site da editora.

(Agora que me juntei ao Goodreads é que consigo ver objectivamente o tamanho da minha lista de livros para ler. Devia estar noutro curso.)


terça-feira, 9 de agosto de 2011

"Moonlight Mile", Dennis Lehane

Ou como às vezes é preferível não mungir mais a vaca.


Sendo fã do escritor Dennis Lehane, conhecido especialmente por Mystic River e Shutter Island, não foi sem entusiasmo que comprei o seu novo livro, Moonlight Mile, cuja existência desconhecia. Ajudou também ser uma nova aventura da dupla de detectives Patrick Kenzie e Angela Gennaro (os mesmos de Gone, Baby, Gone). Curiosamente sempre achei estes livros muito melhores que as tentativas de Lehane de escrever algo "diferente", particularmente The Given Day que, na minha muito modesta opinião, não vale muito (não passei dos primeiros capítulos, é certo, mas a vontade de continuar a lê-lo é pouca).

Como acabei agora de ler noutra crítica, Moonlight Mile é como visitar velhos amigos que há muito não apareciam mas que nunca foram esquecidos. Patrick e Angie são agora casados, pais de uma menina, tendo deixado a vida perigosa de investigação privada para trás (Patrick está a lutar por um cargo definitivo numa empresa de investigação com casos bem mais soft do que os que antes viveu). Mas esta aparente calma é peturbada pelo regresso de outra velha amiga: Beatrice, tia de Amanda McCready (a rapariga que desaparecera em Gone, Baby, Gone). Amanda tem agora dezasseis anos e, primeira saída fácil no que toca ao enredo, voltou a desaparecer. E Patrick foi de novo encarregue de ir no seu encalço, movido por um sentido de dever que está relacionado com o final de Gone, Baby, Gone. O perigo volta a entrar na sua vida, desta vez personificado pela máfia russa, e por aí em diante.

Primeiro devo dizer que achei muito bom Lehane ter optado por escrever uma sequela a Gone, Baby, Gone. O final do livro deixa bastantes questões no ar, algumas das quais são resolvidas nos livros seguintes (como o reatar da relação de Patrick e Angie), outras que estão sempre lá, quase assunto taboo. Será que Patrick fez a coisa certa em tirar Amanda do ambiente seguro em que estava e devolvê-la à mãe negligente? Será que foi essa escolha que culminou no segundo desaparecimento da adolescente e no desenvolvimento do seu carácter? Portanto foi uma boa aposta por parte do autor. O problema é que não conseguiu apresentar um trabalho ao nível do anterior. A premissa é (algo) interessante mas a história vai-se perdendo pelo meio e, quando chega ao fim, não deixa muita marca no leitor. É um "Ai é? OK" que, em teoria, devia ser totalmente evitado neste estilo de livro. E o que custa é que Lehane é capaz de plot twists espectaculares. Aqui usou o óbvio. Fora a pobreza do enredo temos a pobreza da narrativa (comparado a livros anteriores). A cidade de Boston continua a ser uma personagem constante, os diálogos continuam a ser rápidos e inteligentes mas falta aquele click. E, a meu ver, Lehane tentou demasiado entrar no pensamento contemporâneo. Acertou nalguns pontos mas, noutros, parece aquele tio que tenta a todo o custo ser fixe e só se envergonha.

Não é que não o recomende mas se gostam de thrillers há títulos bem melhores do mesmo autor: Darkness, Take My Hand; Gone, Baby, Gone; Prayers for Rain, Shutter Island sendo os meus preferidos. Recomendo Moonlight Mile apenas àqueles leitores que já conhecem o mundo de Patrick e Angela e que não se importam de ler um livro medíocre apenas para os revisitar.

quarta-feira, 3 de agosto de 2011

Howards End

Embora seja um livro com ideias giras (daí ter feito bastantes citações enquanto o lia), não o consegui acabar de ler. Não me conseguiu manter interessada e sempre que pegava nele à noite pensava "que chatice, lá tem de ser". Só que não tem de ser, e por isso desisti e optei por ver o filme. Embora a história esteja relatada de forma algo diferente (juntam alguns acontecimentos num só o que é compreensível para poupar tempo e afins), confirmou as minhas suspeitas que seria algo penoso para acompanhar. Não digo que não tenha gostado do filme: gostei, sobretudo devido às prestações dos actores principais (sendo a Emma Thompson, o Anthony Hopkins e a Helena Bonham-Carter outra coisa não seria de esperar). Mas não é o meu género de história, pronto.



É uma espécie de crítica social. Cada personagem pertence a uma classe distinta com as suas situações características e toda a moral da história é mostrar como todos no fundo são seres humanos iguais, que, no fim, se acabam por unir e ter mais em comum do que pensam e que todos podemos aprender uns com os outros. Julgo ser isto. Mas a acção decorre a um ritmo muito morno e mesmo o ponto alto da história sabe a pouco. Repito, não tiro o mérito ao livro... mas uma pessoa não pode gostar de tudo.



domingo, 31 de julho de 2011

'Inexperience,' repeated Margaret, in  serious yet buoyant tones. 'Of course, I have everything to learn -- absolutely everything -- just as much as Helen. Life's very difficult and full of surprises. At all events, I've got as far as that. To be humble and kind, to go straight ahead, to love people rather than pity them, to remember the submerged -- well, one can't do all these things at once, worse luck, because they're so contradictory. It's then that proportion comes in -- to live by proportion. Don't begin with proportion. Only prigs do that. ...

E.M. Forster, "Howards End" 
Several days passed.
Was Mrs Wilcox one of the unsatisfactory people - there are many of them - who dangle intimacy and then withdraw it? They evoke our interests and affections, and keep the life of the spirit dawdling round them. Then they withdraw. When physical passion is involved, there is a definite name for such behaviour -- flirting -- and if carried far enough it is punishable by law. But no law -- not public opinion even -- punishes those who coquette with friendship, though the dull ache that they inflict, the sense of misdirected effort and exhaustion, may be as intolerable.
- E.M. Forster, "Howards End" 

Isto é tão verdade. Acho que todos nós já nos vimos numa situação parecida: conhecemos alguém que será um amigo fabuloso, alguém que a princípio está sempre lá e nos alicia mas que, de repente, desaparece. E eu não sou santa nenhuma. Tenho a certeza que inconscientemente já o fiz. É daqueles comportamentos meus que não consigo explicar, mas este não é um blogue pessoal.