(Céus, como detesto o título em português... parece que estive a ler Nora Roberts)
Passou um ano desde que Aio Mio morreu. O seu marido, Takumi, e o filho, Yuji, têm conseguido prosseguir com as suas vidas, sempre ensombradas pela perda que sofreram. Com a intenção de querer que Yuji conhecesse a história dos pais quando fosse mais crescido, Takumi começa a escrever um livro de memórias, também para se sentir mais próximo de Mio. Ao mesmo tempo, a época das chuvas aproxima-se... e Takumi lembra-se muito bem das últimas palavras da mulher: "Voltarei no início da época das chuvas para ver como vocês estão". Um dia, os dois vão dar um passeio ao bosque onde costumavam ir com Mio. Chove. Ao aproximarem-se de uma antiga fábrica abandonada, Takumi reconhece uma silhueta que lhe é bastante familiar. Uma silhueta que não via há mais de um ano. A silhueta da sua mulher.
Contigo Para Sempre sofre de um grande problema: a tradução do título. Existem muitas pessoas que, tal como eu, são capazes de torcer o nariz. Mas, desta vez, consegui ir mais além e realmente levar a leitura do livro até ao fim e não me arrependi. É um daqueles casos que não se deve, de todo, julgar o livro pelo... título?
A primeira metade da história decorre lentamente, como é hábito na literatura nipónica (se estiver errada, por favor corrijam-me, mas até hoje ainda não li um livro de um autor japonês que não fosse lento). Nela, Takumi conta a Mio que, aparentemente, perdeu a memória ao regressar ao mundo dos vivos, a história de amor que ambos viveram. Uma história simples, de um rapaz e de uma rapariga que passaram três anos na escola sentados ao lado um do outro sem falar mas que, no último dia de aulas, sentiram uma ligação. Uma história que podia ser de qualquer um, bonita pela sua simplicidade e proximidade à realidade daquele primeiro amor inocente, da descoberta. A segunda metade é bastante mais emotiva. Temos toda a carga emocional da história que foi contada aliada à noção que Mio se tem que ir embora novamente, que tem de haver um adeus definitivo.
E é isso. Simples, mas faz-nos pensar nas nossas próprias relações, naqueles pequenos momentos especiais... como a primeira prenda que ele/ela nos ofereceu, ou o cenário idílico dos primeiros encontros (que pode ser no sítio mais feio, mas para nós será sempre idílico). Vivemos a história com eles e, tal como eles, não queremos que ela acabe para sempre.
Contudo, este não é um livro triste. É um livro que nos ensina a ver o lado bom da vida, sobretudo no último capítulo. Há coisas inevitáveis. Como a morte. Mas o que é a morte quando a curta vida que tivemos nos fez tremendamente feliz? É triste partirmos cedo, mas sabemos que fizemos o nosso melhor quando cá estivemos. Que podíamos ter escolhido outro rumo que talvez nos fizesse viver mais uns anos, mas não nos traria felicidade alguma. Penso ser essa a mensagem que o autor tenta passar e consegue fazê-lo impecavelmente. Lá está, com simplicidade e objectividade.
A única coisa que tenho a apontar é a tradução. De certeza que havia muitas opções aos constantes "Ai sim?". Uma pessoa simplesmente não diz "Ai sim?" quando alguém lhe diz "Olha tu morreste e voltaste e agora tens que ir outra vez".
Curioso é que esta é uma história semi-autobiográfica. Takuji Ichikawa baseou-se na relação com a mãe e com a mulher para o escrever (a mulher dele ainda é viva, contudo). É engraçado com uma história baseada nas duas grandes mulheres na vida de um homem se torna num dos livros mais lidos e acarinhados do Japão.