terça-feira, 9 de agosto de 2011

"Moonlight Mile", Dennis Lehane

Ou como às vezes é preferível não mungir mais a vaca.


Sendo fã do escritor Dennis Lehane, conhecido especialmente por Mystic River e Shutter Island, não foi sem entusiasmo que comprei o seu novo livro, Moonlight Mile, cuja existência desconhecia. Ajudou também ser uma nova aventura da dupla de detectives Patrick Kenzie e Angela Gennaro (os mesmos de Gone, Baby, Gone). Curiosamente sempre achei estes livros muito melhores que as tentativas de Lehane de escrever algo "diferente", particularmente The Given Day que, na minha muito modesta opinião, não vale muito (não passei dos primeiros capítulos, é certo, mas a vontade de continuar a lê-lo é pouca).

Como acabei agora de ler noutra crítica, Moonlight Mile é como visitar velhos amigos que há muito não apareciam mas que nunca foram esquecidos. Patrick e Angie são agora casados, pais de uma menina, tendo deixado a vida perigosa de investigação privada para trás (Patrick está a lutar por um cargo definitivo numa empresa de investigação com casos bem mais soft do que os que antes viveu). Mas esta aparente calma é peturbada pelo regresso de outra velha amiga: Beatrice, tia de Amanda McCready (a rapariga que desaparecera em Gone, Baby, Gone). Amanda tem agora dezasseis anos e, primeira saída fácil no que toca ao enredo, voltou a desaparecer. E Patrick foi de novo encarregue de ir no seu encalço, movido por um sentido de dever que está relacionado com o final de Gone, Baby, Gone. O perigo volta a entrar na sua vida, desta vez personificado pela máfia russa, e por aí em diante.

Primeiro devo dizer que achei muito bom Lehane ter optado por escrever uma sequela a Gone, Baby, Gone. O final do livro deixa bastantes questões no ar, algumas das quais são resolvidas nos livros seguintes (como o reatar da relação de Patrick e Angie), outras que estão sempre lá, quase assunto taboo. Será que Patrick fez a coisa certa em tirar Amanda do ambiente seguro em que estava e devolvê-la à mãe negligente? Será que foi essa escolha que culminou no segundo desaparecimento da adolescente e no desenvolvimento do seu carácter? Portanto foi uma boa aposta por parte do autor. O problema é que não conseguiu apresentar um trabalho ao nível do anterior. A premissa é (algo) interessante mas a história vai-se perdendo pelo meio e, quando chega ao fim, não deixa muita marca no leitor. É um "Ai é? OK" que, em teoria, devia ser totalmente evitado neste estilo de livro. E o que custa é que Lehane é capaz de plot twists espectaculares. Aqui usou o óbvio. Fora a pobreza do enredo temos a pobreza da narrativa (comparado a livros anteriores). A cidade de Boston continua a ser uma personagem constante, os diálogos continuam a ser rápidos e inteligentes mas falta aquele click. E, a meu ver, Lehane tentou demasiado entrar no pensamento contemporâneo. Acertou nalguns pontos mas, noutros, parece aquele tio que tenta a todo o custo ser fixe e só se envergonha.

Não é que não o recomende mas se gostam de thrillers há títulos bem melhores do mesmo autor: Darkness, Take My Hand; Gone, Baby, Gone; Prayers for Rain, Shutter Island sendo os meus preferidos. Recomendo Moonlight Mile apenas àqueles leitores que já conhecem o mundo de Patrick e Angela e que não se importam de ler um livro medíocre apenas para os revisitar.

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