terça-feira, 16 de agosto de 2011

Die-cutting

Recebi uma notificação do Abebooks bastante engraçada. Geralmente não ligo muito porque uso a "loja" como último dos últimos recursos (não porque o serviço seja mau, mas já recebi um livro que cheirava bastante mal e não é agradável) mas desta vez ainda me demorei um bocadinho a ler. É sobre die-cut books, um método de impressão bastante original que cria "buracos" nos livros que permitem ao leitor espreitar para a página seguinte e construir a sua própria história, juntando palavras de várias páginas. O livro mais recente de um dos meus autores favoritos, Jonathan Safran Foer, foi editado com esta técnica. Aqui fica o link para o artigo do Abebooks, que apresenta em complemento uma selecção de obras com este design.


Die-Cuts to Die For

Pessoalmente, não sou grande fã. Acho a ideia original, claro, mas não sou capaz de ler um livro assim. Pertenço àquele grupo de leitores conservadores que não gosta muito de inovações a nível de design, como é o caso, ou a nível de escrita, como começar a história do princípio para o fim e não usar pontuação. De qualquer forma, dêem uma espreitadela!

sábado, 13 de agosto de 2011

"Be With You/Contigo Para Sempre", Takuji Ichikawa

(Céus, como detesto o título em português... parece que estive a ler Nora Roberts)


Passou um ano desde que Aio Mio morreu. O seu marido, Takumi, e o filho, Yuji, têm conseguido prosseguir com as suas vidas, sempre ensombradas pela perda que sofreram. Com a intenção de querer que Yuji conhecesse a história dos pais quando fosse mais crescido, Takumi começa a escrever um livro de memórias, também para se sentir mais próximo de Mio. Ao mesmo tempo, a época das chuvas aproxima-se... e Takumi lembra-se muito bem das últimas palavras da mulher: "Voltarei no início da época das chuvas para ver como vocês estão". Um dia, os dois vão dar um passeio ao bosque onde costumavam ir com Mio. Chove. Ao aproximarem-se de uma antiga fábrica abandonada, Takumi reconhece uma silhueta que lhe é bastante familiar. Uma silhueta que não via há mais de um ano. A silhueta da sua mulher.

Contigo Para Sempre sofre de um grande problema: a tradução do título. Existem muitas pessoas que, tal como eu, são capazes de torcer o nariz. Mas, desta vez, consegui ir mais além e realmente levar a leitura do livro até ao fim e não me arrependi. É um daqueles casos que não se deve, de todo, julgar o livro pelo... título?

A primeira metade da história decorre lentamente, como é hábito na literatura nipónica (se estiver errada, por favor corrijam-me, mas até hoje ainda não li um livro de um autor japonês que não fosse lento). Nela, Takumi conta a Mio que, aparentemente, perdeu a memória ao regressar ao mundo dos vivos, a história de amor que ambos viveram. Uma história simples, de um rapaz e de uma rapariga que passaram três anos na escola sentados ao lado um do outro sem falar mas que, no último dia de aulas, sentiram uma ligação. Uma história que podia ser de qualquer um, bonita pela sua simplicidade e proximidade à realidade daquele primeiro amor inocente, da descoberta. A segunda metade é bastante mais emotiva. Temos toda a carga emocional da história que foi contada aliada à noção que Mio se tem que ir embora novamente, que tem de haver um adeus definitivo.

E é isso. Simples, mas faz-nos pensar nas nossas próprias relações, naqueles pequenos momentos especiais... como a primeira prenda que ele/ela nos ofereceu, ou o cenário idílico dos primeiros encontros (que pode ser no sítio mais feio, mas para nós será sempre idílico). Vivemos a história com eles e, tal como eles, não queremos que ela acabe para sempre.

Contudo, este não é um livro triste. É um livro que nos ensina a ver o lado bom da vida, sobretudo no último capítulo. Há coisas inevitáveis. Como a morte. Mas o que é a morte quando a curta vida que tivemos nos fez tremendamente feliz? É triste partirmos cedo, mas sabemos que fizemos o nosso melhor quando cá estivemos. Que podíamos ter escolhido outro rumo que talvez nos fizesse viver mais uns anos, mas não nos traria felicidade alguma. Penso ser essa a mensagem que o autor tenta passar e consegue fazê-lo impecavelmente. Lá está, com simplicidade e objectividade.

A única coisa que tenho a apontar é a tradução. De certeza que havia muitas opções aos constantes "Ai sim?". Uma pessoa simplesmente não diz "Ai sim?" quando alguém lhe diz "Olha tu morreste e voltaste e agora tens que ir outra vez".

Curioso é que esta é uma história semi-autobiográfica. Takuji Ichikawa baseou-se na relação com a mãe e com a mulher para o escrever (a mulher dele ainda é viva, contudo). É engraçado com uma história baseada nas duas grandes mulheres na vida de um homem se torna num dos livros mais lidos e acarinhados do Japão.

(Dentro do mesmo género, recomendo "Um Grito de Amor Desde o Centro do Mundo", de Kyochi Katayama. É muito mais triste, não tem qualquer farrapito de optimismo mas é uma história muito forte)



quarta-feira, 10 de agosto de 2011

Novas edições dos Virago Modern Classics

Uma notícia sugerida por uma amiga minha (adoro quando isto acontece). A colecção Virago, ramo da editora Little Brown, decidiu editar novamente alguns títulos do seu catálogo com um look renovado. Parece que as capas em tecido estão na moda...


Pelo que percebi, este ramo da Little Brown especializa-se em publicar autoras femininas subvalorizadas. Posso estar errada mas, se esse for o caso, fiquei com bastante curiosidade em ler alguns títulos. Alguns já estão disponíveis no site da editora.

(Agora que me juntei ao Goodreads é que consigo ver objectivamente o tamanho da minha lista de livros para ler. Devia estar noutro curso.)


terça-feira, 9 de agosto de 2011

"Moonlight Mile", Dennis Lehane

Ou como às vezes é preferível não mungir mais a vaca.


Sendo fã do escritor Dennis Lehane, conhecido especialmente por Mystic River e Shutter Island, não foi sem entusiasmo que comprei o seu novo livro, Moonlight Mile, cuja existência desconhecia. Ajudou também ser uma nova aventura da dupla de detectives Patrick Kenzie e Angela Gennaro (os mesmos de Gone, Baby, Gone). Curiosamente sempre achei estes livros muito melhores que as tentativas de Lehane de escrever algo "diferente", particularmente The Given Day que, na minha muito modesta opinião, não vale muito (não passei dos primeiros capítulos, é certo, mas a vontade de continuar a lê-lo é pouca).

Como acabei agora de ler noutra crítica, Moonlight Mile é como visitar velhos amigos que há muito não apareciam mas que nunca foram esquecidos. Patrick e Angie são agora casados, pais de uma menina, tendo deixado a vida perigosa de investigação privada para trás (Patrick está a lutar por um cargo definitivo numa empresa de investigação com casos bem mais soft do que os que antes viveu). Mas esta aparente calma é peturbada pelo regresso de outra velha amiga: Beatrice, tia de Amanda McCready (a rapariga que desaparecera em Gone, Baby, Gone). Amanda tem agora dezasseis anos e, primeira saída fácil no que toca ao enredo, voltou a desaparecer. E Patrick foi de novo encarregue de ir no seu encalço, movido por um sentido de dever que está relacionado com o final de Gone, Baby, Gone. O perigo volta a entrar na sua vida, desta vez personificado pela máfia russa, e por aí em diante.

Primeiro devo dizer que achei muito bom Lehane ter optado por escrever uma sequela a Gone, Baby, Gone. O final do livro deixa bastantes questões no ar, algumas das quais são resolvidas nos livros seguintes (como o reatar da relação de Patrick e Angie), outras que estão sempre lá, quase assunto taboo. Será que Patrick fez a coisa certa em tirar Amanda do ambiente seguro em que estava e devolvê-la à mãe negligente? Será que foi essa escolha que culminou no segundo desaparecimento da adolescente e no desenvolvimento do seu carácter? Portanto foi uma boa aposta por parte do autor. O problema é que não conseguiu apresentar um trabalho ao nível do anterior. A premissa é (algo) interessante mas a história vai-se perdendo pelo meio e, quando chega ao fim, não deixa muita marca no leitor. É um "Ai é? OK" que, em teoria, devia ser totalmente evitado neste estilo de livro. E o que custa é que Lehane é capaz de plot twists espectaculares. Aqui usou o óbvio. Fora a pobreza do enredo temos a pobreza da narrativa (comparado a livros anteriores). A cidade de Boston continua a ser uma personagem constante, os diálogos continuam a ser rápidos e inteligentes mas falta aquele click. E, a meu ver, Lehane tentou demasiado entrar no pensamento contemporâneo. Acertou nalguns pontos mas, noutros, parece aquele tio que tenta a todo o custo ser fixe e só se envergonha.

Não é que não o recomende mas se gostam de thrillers há títulos bem melhores do mesmo autor: Darkness, Take My Hand; Gone, Baby, Gone; Prayers for Rain, Shutter Island sendo os meus preferidos. Recomendo Moonlight Mile apenas àqueles leitores que já conhecem o mundo de Patrick e Angela e que não se importam de ler um livro medíocre apenas para os revisitar.

quarta-feira, 3 de agosto de 2011

Howards End

Embora seja um livro com ideias giras (daí ter feito bastantes citações enquanto o lia), não o consegui acabar de ler. Não me conseguiu manter interessada e sempre que pegava nele à noite pensava "que chatice, lá tem de ser". Só que não tem de ser, e por isso desisti e optei por ver o filme. Embora a história esteja relatada de forma algo diferente (juntam alguns acontecimentos num só o que é compreensível para poupar tempo e afins), confirmou as minhas suspeitas que seria algo penoso para acompanhar. Não digo que não tenha gostado do filme: gostei, sobretudo devido às prestações dos actores principais (sendo a Emma Thompson, o Anthony Hopkins e a Helena Bonham-Carter outra coisa não seria de esperar). Mas não é o meu género de história, pronto.



É uma espécie de crítica social. Cada personagem pertence a uma classe distinta com as suas situações características e toda a moral da história é mostrar como todos no fundo são seres humanos iguais, que, no fim, se acabam por unir e ter mais em comum do que pensam e que todos podemos aprender uns com os outros. Julgo ser isto. Mas a acção decorre a um ritmo muito morno e mesmo o ponto alto da história sabe a pouco. Repito, não tiro o mérito ao livro... mas uma pessoa não pode gostar de tudo.



domingo, 31 de julho de 2011

'Inexperience,' repeated Margaret, in  serious yet buoyant tones. 'Of course, I have everything to learn -- absolutely everything -- just as much as Helen. Life's very difficult and full of surprises. At all events, I've got as far as that. To be humble and kind, to go straight ahead, to love people rather than pity them, to remember the submerged -- well, one can't do all these things at once, worse luck, because they're so contradictory. It's then that proportion comes in -- to live by proportion. Don't begin with proportion. Only prigs do that. ...

E.M. Forster, "Howards End" 
Several days passed.
Was Mrs Wilcox one of the unsatisfactory people - there are many of them - who dangle intimacy and then withdraw it? They evoke our interests and affections, and keep the life of the spirit dawdling round them. Then they withdraw. When physical passion is involved, there is a definite name for such behaviour -- flirting -- and if carried far enough it is punishable by law. But no law -- not public opinion even -- punishes those who coquette with friendship, though the dull ache that they inflict, the sense of misdirected effort and exhaustion, may be as intolerable.
- E.M. Forster, "Howards End" 

Isto é tão verdade. Acho que todos nós já nos vimos numa situação parecida: conhecemos alguém que será um amigo fabuloso, alguém que a princípio está sempre lá e nos alicia mas que, de repente, desaparece. E eu não sou santa nenhuma. Tenho a certeza que inconscientemente já o fiz. É daqueles comportamentos meus que não consigo explicar, mas este não é um blogue pessoal.

sábado, 30 de julho de 2011

A Hapless Fugitive


She left the palace and went along the banks of the Seine to Chaillot, where she knocked at the door of a small convent kept by some poor nuns. They admitted her to the outside parlour, and there she collapsed, worn out with fatigue, cold, and misery. As the sun rose over the palace, the huge whisper of gossip, hardly silent at night, grew louder and louder. At last the King heard the name Louise in a passing conversation.
"What is it? Tell me!" he commanded.
"Sire, they say she has taken the vows at the Convent of Chaillot," replied the frightened courtiers.
Louis said not a word, but turned on his heel, mounted a horse, and galloped to the convent.
He was admitted to the parlour where lay his lovely Louise on the floor, her whole body shaken with sobs. After much persuasion, she told what she would have hidden from him, and Louis ordered her a carriage for the return to Paris. Neither the Duke nor the Duchess of Orleans would have her back.
At length, however, the Duchess yielded to Louis's commands, his entreaties, his threats, and his tears, and Louise returned to the Tuileries.



Fonte: Chest of Books

"Love and Louis XIV", Antonia Fraser

O meu interesse sobre a vida amorosa de Louis XIV surgiu ao ler a saga dos Três Mosqueteiros, de Alexandre Dumas, particularmente os volumes Vicomte de Bragelonne e Louise de la Valliére. Sobretudo o último. Louis surge-nos como um rapaz lindíssimo de caracóis loiros, que passou grande parte da infância em condições algo pobres devido às contenções do cardeal Mazarin (que se diz ter sido amante de sua mãe, Ana de Áustria). Após a morte de Mazarin, Louis começa a dar os primeiros passos no caminho para a grandeza até chegar à imagem que hoje temos dele. Mas aquilo de que não nos podemos esquecer é que um rapaz é sempre um rapaz. E todos os rapazes têm o seu primeiro amor. Segundo Dumas, esse primeiro amor "verdadeiro" não é a sua mulher, Marie-Thérèse,, mas Louise de la Valliére, sua aia. No romance, Louise já se encontrava comprometida com o Visconde de Bragelonne, filho de Athos, mas não consegue negar o que sente pelo Rei. Cria-se um triângulo amoroso no qual o pobre Visconde de nada suspeita até apanhar a sua prometida em flagrante. Mas as cenas relativas a Louis e Louise são de uma pureza e beleza tal que não pude conter a curiosidade de descobrir se realmente tinha sido assim. E eis que surgiu Love and Louis XIV, de Antonia Fraser (autora da famosa biografia de Marie Antoinette que deu origem ao filme de Sofia Coppola).





Como o meu principal interesse era Louise de la Valliére, peço desde já desculpa se este texto se focar demasiado nela.

Em primeiro lugar, descobri que o primeiro interesse amoroso de Louis fora ainda nos seus tempos de solteiro: Marie Mancini, sobrinha do cardeal Mazarin (e algum interesse pela irmã desta, Olympe, devido à sua inteligência). Sendo o próprio cardeal contra a união, Louis acabou por se casar com Marie-Thérèse da Áustria, julgo que sua prima. Nos primeiros anos tudo correra bem, com relatórios de uma vida sexual bastante acesa. Contudo, eis que chega à corte Henrietta-Maria, irmã de Charles II de Inglaterra, para se casar com o irmão de Louis, Philippe d'Órleans. Henrietta-Maria era, segundo dizem, uma mulher belíssima e alegre, que atraía naturalmente as atenções para si. Isto não escapou a Louis. Juntos iniciaram um affair sobretudo baseado em galanterias inocentes - o que poderia, contudo, ter consequências desastrosas fosse descoberto. Para evitar a tragédia, o par concebeu um plano para se poder encontrar sem levantar suspeitas: Louis fingir-se-ia interessado por uma das damas de companhia de Henrietta. Isto justificaria quaisquer deslocações aos apartamentos de Henrietta. A rapariga escolhida, alheia a tudo, foi Louise Françoise de la Baume le Blanc de la Vallière, descrita pelos seus contemporâneos como simples, ligeiramente coxa devido a um acidente ocorrido na sua infância (aliás descrito por Dumas), muito loira mas, apesar de tudo, nada desagradável à vista. 

Era uma excelente cavaleira e tinha gosto pela caça, características extremamente propícias a atrair a atenção de Louis. Mas não foi isto que o cativou: foi a sua inocência, o vê-la apaixonada não pela Coroa mas pelo rapaz que ele ainda era. Após muita insistência da parte de Louis (e resistência pela parte de Louise, que era extremamente devota) o par finalmente consumou o seu amor, amor esse que durou bastante tempo e produziu seis filhos, dos quais sobreviveram apenas dois (a rapariga, Marie Anne de Bourbon, tornar-se-ia a favorita de todos os filhos de Louis). Louise foi eventualmente substituída por Athenaïs de Montespan, uma rapariga inteligente e extremamente atraente, com a qual se diz Louis ter vivido a fase mais sexual da sua vida. Consumida pelo desgosto e pelo pecado do seu amor, Louise entrou para um convento.

Fiquei muito satisfeita ao ver que Dumas não exagerara nos sentimentos de Louis por Louise e vice-versa. Um dos meus episódios favoritos aconteceu, de facto. Ainda nos primeiros anos do seu romance, Louise começara a ser vítima das intrigas da corte: Fouquet pretendeu chantageá-la, o que Louis entendeu como um avanço amoroso, mas o que realmente causou a primeira crise entre o casal foi a teimosia de Louise em não revelar ao seu amante nenhum detalhe do caso amoroso entre Henrietta-Maria e o Conde de Guiche. Destroçada, Louise fugiu para um convento. Ao saber disso Louis, interrompendo toda a sua agenda na corte, vestiu um manto para esconder o rosto, montou um cavalo e foi a toda a brida ter com a sua amada. Se isto não é terrivelmente romântico, então não sei. 

Pode-se dizer que foi o crescimento da grandeza de Louis que os separou. Afinal, Louis tornou-se absoluto, o que o distanciava tremendamente da imagem de rapaz que Louise amava. Com o poder, a grandeza, a magnificência, vem tudo: hordes de pessoas dispostas a viver em sótãos esquálidos apenas para estar perto do Rei e, inevitavelmente, mulheres. Todas as mulheres que um homem possa desejar. Neste caso específico, Athenaïs de Montespan também se soube aproveitar um pouco da situação mas, forma geral, penso ter sido isso que aconteceu: a relação com Louise já estava morna, o seu poder aumentou, apareceu alguém atraente e disponível (Athenaïs era casada, mas isso na altura era relativo - embora tenham ocorrido alguns episódios bastante engraçados com o seu marido) e as coisas aconteceram.

Tudo isto está no livro de Antonia Fraser. Tudo isto e muito mais. Desde a relação com a sua mãe, Ana de Áustria, ao primeiro amor por Marie Mancini; desde o primeiro compromisso sério com Louise até ao desenfreio sexual com Montespan, acabando pela paz e calma da sua última relação (e suspeita-se que segundo casamento) com Madame de Maintenon (sarcasticamente apelidada de Madame de Maintenant). Fora das linhas gerais, Antonia Fraser deleita-nos com todas as pequenas intrigas que circulavam na corte da época, incluindo o infame caso dos venenos no qual Athenaïs esteve alegadamente implicada. É uma biografia extensa, claro; mas traz-nos não Louis XIV, o magnânimo, o Rei-Sol mas sim Louis, o homem, e os seus problemas domésticos. O único ponto negativo é a insistência em descrições como se a autora lá estivesse, coisas que é impossível qualquer um de nós saber: que certa pessoa respondeu apressadamente, ou que corou ao fazer vénia. Uma coisa é certa, contudo: tudo o que está documentado, está-o muitíssimo bem feito.  Já aumentei consideravelmente a minha wishlist devido a isso mesmo (incluindo o The Affair of the Poisons, de Anne Somerset, que já deve vir a caminho!). 

Um livro que recomendo com todo o gosto àqueles que se interessam pelas histórias dentro da História (e por uma boa história de amor na vida real).


"Life in a Victorian Workhouse"

Sempre tive curiosidade em ler algo mais sobre as workhouses da época Vitoriana, mas nunca soube muito bem por onde começar. Encontrei na Foyle's exactamente o que precisava: um livrinho pequeno, tipo introdutório, não só às workhouses em si como também às diversas Poor Laws e a pequenas descrições de como seria a vida nas instituições.

As workhouses foram implementadas após a aprovação da New Poor Law, em 1834, que terminava com os apoios paroquiais à crescente população pobre e procurava uma nova solução: algum sítio onde os pobres tivessem o mínimo conforto e qualidade de vida para que se sentissem estimulados a procurar trabalho fora de muros. A ideia parece desumana - a realidade era-o muito mais. Alimentação esparsa, condições de trabalho muito duras (os chamados able-bodied men passavam os dias a partir pedra, entre outros trabalhos duros), famílias separadas (só as crianças abaixo dos três anos de idade podiam permanecer com os pais), nenhuma higiene e zero apoio médico. Estas instituições geraram especial interesse por parte dos escritores e críticos sociais da época, que se chegavam a disfarçar de mendigos para testemunharem pessoalmente o que apenas tinham ouvido. Claro que, ao longo dos anos, algumas condições foram sendo melhoradas, sobretudo no campo da alimentação e saúde - neste último campo graças a campanhas de enfermeiras como, por exemplo, Florence Nightingale. Mas, para quem lá vivia, e embora proporcionassem um tecto e comida que talvez vivendo fora dela não teria, sempre foi um símbolo de humilhação.


O livro fala ainda (sempre de forma concisa) de como as workhouses foram desaparecendo e o que é feito de alguns dos edifícios. Curioso saber que alguns foram convertidos em apartamentos de luxo: o livro termina com a pergunta "O que pensariam os que aqui viveram presos se vissem agora a quantia que as pessoas pagam simplesmente para viver isoladas do mundo?".

O site Workhouses.org.uk fornece imensa informação e referências bibliográficas para quem pretenda aprofundar conhecimentos. Destaco a secção "Then & Now" que fornece fotografias de como eram as workhouses e como são hoje.

(Comentário parvo: de fora, os edifícios até eram bonitos).

quinta-feira, 28 de julho de 2011

Encontrada possível inspiração de Shakespeare para Ophelia

Segundo alguns historiadores, um relatório datado de 1569 que descreve a morte por afogamento de uma jovem rapariga ao colher flores poderá ter servido de inspiração para a trágica personagem de Hamlet, Ophelia. Jane Shaxspere, que pode ter sido inclusivé familiar do poeta, vivia a apenas a 30km da casa onde este passara a infância.




Mais

terça-feira, 19 de julho de 2011

Resultados

Meu dito, meu feito! Aqui estão os resultados! Alguns são versões mini de "personagens" pertencentes à minha outra faceta. Fazer isto é tão viciante como esponjas.







DIY: Marcas para livros

Uma coisa que vou experimentar fazer! Marcas para livros originais que quebram totalmente com a marca chata rectangular que toda a gente tem: são marcas de canto. 


Parecem ser bastante fáceis de fazer, e julgo que o design com dentes é apenas uma das muitas opções.

Fonte + Instruções


O mais complicado de arranjar é o papel com motivos. Nas lojas de artes decorativas existem pacotinhos com guardanapos com padrões interessantes mas tem o contra de sobrarem imensos.

Fica a sugestão!

Pride & Prejudice, estilo Facebook


(via)

Parte favorita: Mrs Bennet joined the group Widows of Men Killed in Duels.

segunda-feira, 18 de julho de 2011

Penguin Clothbound Series

No seguimento do post anterior foi-me mostrada mais uma colecção com capas deliciosas, desta vez da Penguin Classics. São livros forrados a tecido com design de Coralie Bickforth-Smith, cover designer da casa. Julgo já ter visto alguns exemplares à venda na Fnac (refiro-me à do Fórum Almada) mas não me ocorre o preço de cada um. 






Adoro a conjugação de cores e a escolha do motivo, que alude directamente ao tema central dos livros.

Deixo-vos o site da designer caso tenham curiosidade em ver não só as edições forradas a tecido como outros trabalhos também executados para a Penguin: Coralie Bickford-Smith. Obrigado, Inês!

Barnes & Noble Classics

Ou a inauguração de uma nova tag. Não sei se este tipo de design se aplica a todos os títulos da colecção de clássicos da Barnes & Noble ou só a alguns. O que é certo é que é maravilhoso.

Book porn

Dá vontade de ter livros repetidos só para ter estas capas.


They Draw & Cook

Encontrei hoje este site giríssimo de promoção a um livro de cozinha bem fora do comum que será editado em Outubro deste ano. São receitas e ilustrações de artistas de todos os cantos do mundo. A ideia partiu de Nate Padavick e Salli Swindell, ilustradores de profissão que, um dia, se aperceberam o quão divertido era ilustrar as suas próprias receitas. A princípio o livro seria apenas destinado a família e amigos mas, devido à pouca quantidade de receitas que possuíam, resolveram criar um blog aberto a submissões que foi um sucesso imediato. O livro contará com uma selecção das receitas ilustradas submetidas. Algumas podem ser visualizadas no próprio site.


Gosto sobretudo das que não se limitam a uma ilustração de fundo mas que ilustram cada passo a dar. Recomendo vivamente uma olhadela pelo site!
He says, you have to study and learn so that you can make up your own mind about history and everything else but you can’t make up an empty mind. Stock your mind, stock your mind. You might be poor, your shoes might be broken, but your mind is a palace.
Frank McCourt, Angela’s Ashes (via)

domingo, 17 de julho de 2011

"O Parente Mais Próximo", John Boyne


Data de lançamento: Outubro de 2006
Data de lançamento em Portugal: 2011
Editora: Ulisseia
Páginas: 488

Owen é o parente pobre da riquíssima família Montignac, a qual o adoptou por caridade. Contudo, quando o patriarca da família, seu tio, morre, Owen sente-se animado com a promessa de um futuro no qual não dependerá de ninguém pois toda a riqueza será sua, devido à sucessão natural para o herdeiro masculino. Mas o destino troca-lhe as voltas e Owen assiste, abismado, à leitura de um testamento que passa todo o espólio Montignac não para si mas para a sua prima, Stella. Ignorando os motivos que levaram o seu tio a modificar a regra de sucessão da família e mergulhado em dívidas de jogo, Owen tem que utilizar a sua pródiga inteligência para sobreviver.

O Parente Mais Próximo é o segundo livro de John Boyne editado em Portugal, precedido pelo êxito O Rapaz do Pijama às Riscas livro sobre o qual continuo a ter sentimentos mistos. Foi precisamente essa a razão que me fez comprar o novo livro: ver o que havia para além daquilo, daquela história inocente a roçar o cliché. E foi uma óptima surpresa.

Alguns personagens são ligeiramente dispensáveis, mal construídos, nota-se claramente que John Boyne concentrou todo o seu talento apenas em dois ou três o que pode constituir um erro. Mas aqui, sendo um livro tão despretensioso, mal se dá por isso. Os quatro personagens centrais também são algo cliché: Sir Roderick Bentley, o juíz que garante nunca faltar à sua integridade, Gareth Bentley, seu filho, o típico menino-rico da aristocracia, das escolas privadas, de futuro traçado e sem ambição, Stella Montignac, o estereótipo de mulher decidida da época e, por fim, Owen Montignac, aquele que escapa melhor a linhas pré-definidas. E ainda bem. Extremamente inteligente, de aparência pouco habitual, Owen tem tudo para se tornar desprezível aos olhos do leitor com todos os esquemas que monta para sobreviver mas, no final, acontece precisamente o contrário: o leitor afeiçoa-se a ele, sente com ele, não quer que nada lhe corra mal embora ele  o mereça. 


Quanto ao fluir da história em si, alguns podem considerá-lo algo lento. Contudo, tem que ter tido em conta que este livro pretende misturar uma espécie de suspense, thriller e drama familiar e julgo que John Boyne conseguiu cozinhar muito bem os três. Todos os pedaços de informação são-nos dados pouco a pouco, em lume brando, para nos aguçar a curiosidade. Não nos é apresentada uma descrição exaustiva de cada personagem no primeiro momento em que aparecem. Vamos conhecendo cada um deles aos poucos. E esse é um ponto muito forte.

A capacidade de entreter é suprema, daí recomendar vivamente O Parente Mais Próximo. O enredo envolve-nos, abstrai-nos do resto. Não é de todo uma obra-prima, mas, sendo pouco ambicioso, cumpre todos os seus objectivos. Fiquei com curiosidade em ler mais obras do senhor Boyne... e já tenho algumas ali na estante.

Classificação: 3,5/5. Despretensioso, história simples, personagem central fortíssimo, questões morais estereótipo, leitura rápida e cativante.



Christopher Walken a ler histórias infantis. Sim.

de  For Whom The Bell Tolls, de Ernest Hemingway



Source

Les Heures Claires

Esta livraria situada em Paris, fundada em 1944, dedica-se a edições artísticas de romances conhecidos com elevada qualidade, segundo me parece (e, a constar pelo preço - 2000€ um livro - devem ser). Dentro do seu catálogo estão compilações de ilustrações dos contos de La Fontaine e de outros clássicos da literatura francesa como Cyrano de Bérgerac ou Lettres de Mon Moulin. Deixo o link para darem uma espreitadela na edição de Cyrano de Bérgerac. Atentem na beleza da capa e nos pormenores das ilustrações.

http://www.lesheuresclaires.com/fr/vaulpre/vaul_frame.htm

Pessoalmente seria preciso mais que isto para desembolsar 2000€, por mais bonito que seja. Se fosse uma antologia do Illustrated London News já não respondia por mim...

Revista Châteaux de Versailles

Descobri, através de um rasgo de sorte extraordinário, o segundo volume desta revista totalmente dedicada ao palácio de Versailles. Conta com secções de notícias sobre novas actividades, exposições, novas peças adquiridas para o espólio, casos curiosos que lá se passaram e biografias de quem lá viveu. É um mimo para quem gosta de História ou para quem que, como eu, tem passado demasiado tempo a ler sobre a vida doméstica e amorosa do rei Louis XIV.


Custa €10,90 (um pouco caro, mas a qualidade da edição é muito boa). Caso não a consigam encontrar é possível encomendá-la através desta página, bem como pedir números atrasados.

sábado, 16 de julho de 2011

"I inflict all this on you because you once said that life is sometimes life and sometimes only a drama,..."
                            E.M. Forster, "Howards End"

O que se pretende

Penso que o assunto central deste novo blogue (chamemos-lhe projecto) é bastante óbvio. De tanto saltitar na blogosfera nos últimos anos, acabei por concluir que, embora não traga nada de novo, ter um espaço totalmente configurado por mim onde a minha opinião sobre o que leio possa ser expressa sem "ninguém me cair em cima" não seria de todo má ideia. Já o tentei fazer nas toneladas de blogues pessoais que tive mas o que realmente interessava perdia-se na salganhada de posts cheios de teenage angst. Portanto a ideia é essa. Basicamente sou eu a escrever sobre livros.

Que é algo que posso fazer num caderninho à parte em casa, mas há coisas que dá gosto partilhar. Já aprendi que partilhar a vida pessoal com todo o mundo é asneira, daí o útil e fiel caderninho físico. Mas estas coisas tão inocentes e tão ricas não fazem mal a ninguém.

Se vier a ter seguidores, peço-vos força pois tendo a desistir dos meus projectos com muita facilidade. E um obrigado por aqui estarem. Aqui poderão encontrar textos de opinião literária bastante despretensiosos (prometo) e talvez, talvez, faça pequenas rubricas sobre livrarias e bibliotecas pelo mundo.

Estou lançada, portanto... wish me luck!